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Tejo, um rio que conta histórias ainda antes da nacionalidade. Relatos de homens que invadiram, de homens que conquistaram que se fixaram, de homens que partiram e não voltaram. A sua epopeia também foi e é de tragédia, águas que submergiram terras, vidas que se perderam, famílias que se destruiram. Tanto acontecimento num rio, artéria principal da Península Ibérica, sustentáculo de um país. Em Abrantes, o seu porto fluvial foi dos mais importantes a seguir a Santarém na totalidade do seu percurso até Lisboa. Em meados do século XVI, 180 barcos ancoravam permanentemente no abrigo de Abrantes, este número de embarcações demonstra a importância do mesmo à época. Deste local as mercadorias expedidas consistiam na madeira, palha, coiros, ferro, vinho, azeite, mel e melão, quase todas elas tinham como destino Lisboa. De juzante subiam o rio barcos vindos da península de Setúbal e Almada transportando mercadorias à base de sal, peixe e panos, muitos destes não se destinavam só a Lisboa, mas também a outras localidades entre elas Abrantes. Filipe II de Espanha tirou um pouco de agressividade ao rio, com a realização de obras de engenharia no seu leito, de modo a que a navegação se efectuasse nestes locais em segurança. Em Abrantes a montante, na aldeia de Mouricas o canal de alfanzira foi uma dessas obras, ainda hoje se podem observar vestígios no rio. Anteriormente o rei D. Dinis já tinha ordenado trabalhos a fim de haver uma melhor navegabilidade. Assim se manteve o bulício das águas do rio e das suas gentes a gerar economia nos séculos seguintes até ao aparecimento do caminho de ferro, que retirou influência ao rio nos transportes de mercadorias e pessoas. Mas foram os transportes terrestres de mercadorias que destruíram definitamente a continuação da navegabilidade comercial no rio Tejo, nunca mais foi o mesmo. Depois vieram as paredes de betão para amparar as águas revoltas no Inverno, provocar electricidade para fomentar energéticamente as povoações. Desenvolveram um processo de negação do rio em relação ao homem que subsistia das suas águas. Para agravar a situação, indústrias poluentes não se cansam de deixar correr lentamente os excendentes das vísceras fabris, continuando a vulnerar as suas águas, a sacrificar ecossistemas. As histórias do rio e dos homens continua. Abrantes no cimo do seu outeiro, sobranceiro ao rio, é rainha e espectadora.