Nas ruas ecoam ...
O dia amanheceu languescido na cidade, o feriado de Todos os Santos amarrou alguns nas enxergas macias, beneficiando o divórcio ao toque do bafo fresco das primeiras horas. Trouxe os mais novos, em pequenos grupos, acompanhados pelos progenitores, segurando sacos ainda meio cheios de rebuçados, línguas de gato, broas e moedas perdidas na confusão. Nas ruas ecoam as palavras mágicas que abrem as portas - BOLINHOS, BOLINHOS À PORTA DOS SANTINHOS - A tradição aguenta-se, assim como os crisântemos que adornam os cantos e recantos da cidade, sempre os vi nos vasos. Em fila nos largos e ruas, rodeando estátuas e bustos de pessoas ilustres, vigiando as entradas das igrejas como se fossem sentinelas. Em pequeno olhava para estas flores de soslaio, conhecidas por flores dos mortos, daí a olha-las fixamente era difícil. O tempo traz amadurecimento, habituei-me à presença desta família de flores nos dias antecedentes à celebração em honra de todos os santos e mártires, disseminadas na minha cidade. A ausência destas como já aconteceu neste dia de festa, trouxe decepção, uma indelicadeza para com aqueles que rumaram à vida eterna. Felizmente a tradição está para continuar, coloridos desafiam a capacidade criativa dos artistas independentemente da arte praticada, apelam aos forasteiros encontra-las no interior da cidade de Abrantes. Máquinas fotográficas, cadernos de desenho, sebentas são óptimos acessórios para registar a posteridade da beleza urbana, o importante, é o chamamento das pessoas, relembrar a história, fixar residentes.