Sentinelas do tempo ...
No jardim do castelo quem nunca assentou os quadris nos bancos, sentinelas do tempo, da cor do sangue dos que roubam beijos, ou namoram sob a sombra das árvores. Lugares de prazeres proibidos, de leituras de pensamentos, a perscrutarem horizontes. Sentei-me, olhei o rio lá em baixo, de águas castanhas, aguerridas, revoltadas pela incoerência do homem, irrompem no leito adentro, galgando as margens como os exércitos há séculos atrás o conseguiram. Aponto o olhar Onde o sol nasce aureolado de açafrão, vejo os campos transformarem-se consoante as estações, as nuvens a passarem carregadas de tormenta, de histórias do passado. A do rei estrangeiro que sonhou navegar neste rio até abraçar o mar, um atalho para aproximar irmãos que nunca chegaram a sê-lo. Num passado mais longínquo outro rei assentou por aqui com o seu exército, rumando a uma batalha inesquecível, estava escrito que nunca seriamos iguais. O horizonte trouxe-me de volta, Onde estão as palavras gravadas na pedra, escritas pelo escritor que abriu os olhos pela primeira vez nesta terra. Aposto que se sentou num destes bancos, para sentir, como eu sinto, sentimentos desiguais têm todos os que se fixam nestes bancos voltados para lugares nenhuns. Os lugares somos nós que os criamos, o escritor ligou o seu olhar para além-Tejo, Onde está a terra, Onde se fez homem, quais sensações ou imagens, ondulações de um oceano sempre presente a lamberem o horizonte que esquadrinhava. Deixou-nos uma memória para perdurar na pedra, palavras de um namorado que nunca concretizou a união, mas deixou uma amizade para a vida.