Abrantes sempre foi boa ..
Hoje fui espreitar, um dia chamei-lhe Notre Dame de Abrantes logo a seguir aos acontecimentos em Paris, o incêndio na Catedral de Notre Dame, ao encontro de um grupo de abrantinos, manifestando-se em oposição ao encerramento definitivo do Mercado Municipal. Impedido de funcionar pela insensibilidade do município, ao valor patrimonial do mesmo, na continuidade de permanecer de portas abertas após obras de requalificação, ao serviço dos abrantinos. Quem nunca, ou pouco, foi a este edifício não sabe a dinâmica que teve, através da capacidade do seu espaço. O maior onde estavam os produtos hortícolas, transitando, pela padaria, os talhos, descendo à peixaria. Com porta para o exterior, havia o espaço da confeitaria, aberto desde a madrugada para receber, primeiro, os que vinham negociar o resultado do seu trabalho. Depois, os que compravam ali diariamente. Foi um acesso habitual para chegar ao centro da cidade, sempre frenética, o trânsito rodoviário, as pessoas, os estabelecimentos comerciais, os cafés. Primeiro ia-se ao mercado municipal adquirir o necessário para a alimentação diária, num dia peixe, noutro carne, legumes, o pão fresco, não se passava um dia sem ele. Gerador de confiança entre vendedores e compradores, a prova estava, nalguns, destes, que adquiriam bens neste espaço, confiavam-nos aos vendedores, durante um intervalo de tempo, onde iam ao centro da cidade, a outro comércio, ao café. No regresso a casa, era por ali que entravam, pela porta lateral, ou na principal, dirigindo-se ao lugar onde deixaram os bens. O teatro, os museus, reabilitaram edifícios emblemáticos, com história na cidade, nos últimos, estão obras contemporâneas, declaradas na pintura, na arquitectura, e noutras formas de expressões artísticas. Exposição de testemunhos do passado, que nos chegaram através da arqueologia, sangue e sacrifício dos nossos antepassados, permitindo lermos a história até aos dias de hoje. Exemplos, antagónicos ao estado actual, de clemência do mercado municipal, vamos lá compreender a forma de agir do município. Um município ofuscado com projectos modernos, âncoras (importantes) numa comunidade, sem ser elitista, dos navios de cruzeiro a trazerem turistas, criando processos de dinamização económica. Persuadidos, só eles têm conhecimento sobre tudo, deixaram de ver, nos pequenos barcos a remos, a possibilidade, de estarem obrigados a trabalharem para os abrantinos. Provarem competência social e faculdade de sentirem a necessidade de restituir o mercado municipal às pessoas do concelho de Abrantes e limítrofes. Estes sempre se abrigaram nas línguas de areia, nos portos de abrigo, os mercados municipais são para os que usam na agricultura, um conjunto de meios necessários à vida. O concelho continua a ter um território a praticar uma agricultura de subsistência, seria bom reavivar a memória dos abrantinos, da importância do mercado municipal retomar a sua actividade. Abrantes sempre foi boa madrasta, boa mãe nem por isso. É necessário avivar de novo a consciência do passado, perante a ausência de respeito pela história, desta estrutura tradicional de comércio retalhista, caracterizada pela proximidade com os consumidores.