Todas as vezes que o comboio apita...
Todas as vezes que o comboio apita, quase sempre me dirijo à janela para o observar, a sair da rede de vigas cruzadas que mantêm a sustentação da ponte. As luzes, cá de cima, mais se assemelham a dois pequenos olhos atentos ao destino que o leva para terras da Beira Baixa. Ao princípio é o som, lento, crescendo ao aproximar-se, que me alerta, está perto, quando entra na treliça, torna-se intenso, atravessa o rio, ansioso vejo-o romper. Não me canso disto, no outeiro, onde Abrantes está erguida, testemunha as suas partidas e chegadas, trazendo e levando passageiros, desconhecidos. Uns ficam outros não. O importante é o comboio não deixar de causar movimento, nostalgia de quem parte, mesmo naquele que se enamora de o ver passar.